À primeira
vista, o objeto retangular, cheio de contas coloridas que correm
nas hastes, mais parece um brinquedo. Na verdade, trata-se do
soroban, um tradicional instrumento de cálculos matemáticos
desenvolvido no Japão, mas que conquistou adeptos no mundo
todo, incluindo o Brasil.
A história
da utilização de instrumentos para calcular (chamados
ábacos) começou há mais de 2.500 anos. Os
primeiros ábacos eram constituídos de fios paralelos
e contas deslizantes. De acordo com sua posição,
representavam a quantidade a ser trabalhada. Há indícios
de que o homem já utilizava o ábaco antes mesmo
da escrita. O sistema de contas e fios recebeu dos romanos o nome
de calculi, o que deu origem à palavra cálculo.
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Entre
os diversos tipos de ábaco existentes, está
o soroban (o ábaco japonês), originário
do chinês suan-pan. O professor japonês Kambei
Moori trouxe o aparelho da China no século 17 e desenvolveu
o soroban em sua cidade natal, Kyoto. Em 1662, publicou
o livro Embrião do Soroban.
Apesar
de Moori ser considerado o pai do soroban, manuscritos japoneses
datados de 1503 já descreviam o ábaco de calcular
suan-pan, levantando a hipótese de que o aparelho
já era conhecido no Japão. |
Trazido ao
Brasil pelos imigrantes japoneses, o soroban era usado em cálculos
cotidianos. O método foi desenvolvido mais tarde por Fukutaro
Kato, que chegou ao País em 1956, ensinou o shuzan (arte
de manejar o soroban) e fundou a Associação Cultural
de Shuzan do Brasil.
Capaz de efetuar
operações matemáticas com números
negativos, decimais, raiz quadrada e cúbica, o soroban
ainda é muito utilizado. Existem campeonatos mundiais no
Japão e torneios nacionais em diversos países. A
graduação do soroban começa no 15º grau
e vai diminuindo até que o praticante alcance o dan.
A partir daí, o grau passa a ser contado como 1º dan,
2º dan e assim sucessivamente.
É possível continuar aumentando o número
do dan infinitamente. Apesar de parecer estressante, o soroban
é utilizado para relaxamento. Além disso, desenvolve
o cálculo mental. Nele, os sorobanistas devem imaginar
o soroban e seus movimentos de modo a solucionar os exercícios.
Com o desenvolvimento do cálculo mental, contas envolvendo
mais de seis dígitos podem ser feitas sem o auxílio
de qualquer aparelho de calcular.
Quem
é o mais rápido?
Para testar
a velocidade do soroban, Made in Japan promoveu um desafio entre
o aparelho e uma calculadora. A analista financeira com pós-graduação
em Finanças Corporativas Fátima Miazato usou a calculadora.
O atual campeão brasileiro de soroban na categoria Ditado,
Mario Yokota, utilizou o ábaco japonês.
O
desafio foi dividido em duas etapas
Na primeira,
os dois participantes deveriam ouvir os números ditados
pela professora Kátia Sayuri T. Nikkuni, do Centro
Paulistano de Soroban.
Essa prova
é chamada de Ditado pelos sorobanistas e é usada
para medir a velocidade na execução de cálculos.
Os participantes
deveriam executar uma operação de soma com os seguintes
números: 725.194.083 + 947.381.562 + 592.743.610 + 134.206.958
+ 680.537.241 + 398.670.154 + 810.725.936 + 549.036.278 + 281.547.609
+ 402.368.917 = 5.522.412.348.
No soroban
essa conta foi resolvida em 32 segundos.
Já
na calculadora… “Não dá para acompanhar
uma conta com essa quantidade de dígitos na calculadora.
São
muitos números”, disse Fátima.
A segunda
etapa do desafio consistia na leitura e execução
da seguinte operação: 380.629.574 + 751.402.698
+ 179.354.086 + 937.268.150 + 642.381.709 + 105.429.837 + 476.215.903
+ 813.594.672 + 296.031.458 + 562.470.381= 5.144.778.468.
Dessa
vez, a calculadora conseguiu executar a operação
com o resultado correto em 31 segundos. Pode parecer rápido,
mas o soroban conseguiu efetuar a mesma operação
também com o resultado correto em apenas 26 segundos.
Após
a Segunda Guerra Mundial, o Japão foi invadido por calculadoras
norte-americanas. Em 12 de novembro de 1946, para provar a supremacia
das máquinas dos Estados Unidos, foi marcado um duelo entre
elas e o soroban. O japonês Kiyoshi Matsuzaki e seu soroban
venceram
Craques
de todas as idades
Caçula
de uma família de três irmãos, Felipe Kenji
Nagata, de 11 anos, estuda soroban desde os 7. Atual campeão
brasileiro do 4º grau, também ficou em segundo lugar
na prova de Cálculo Mental e terceiro no Ditado.
Os bons resultados
fizeram com que o garoto recebesse o prêmio de melhor desempenho
em sua categoria. Além de ter melhorado as notas na escola,
o soroban trouxe muitos colegas a Felipe. “Não tenho
amigos na rua, mas no soroban arranjei vários amigos, de
Mogi e até de Belo Horizonte”, afirma.
Outra expert
é Elaine Siuetsugu, campeã brasileira da Prova Geral
nos anos de 1998 e 1999. Auditora
de sistemas, ela começou a estudar o soroban aos 11 anos.
“Ele
desenvolve o raciocínio lógico, a concentração,
a memorização e a percepção.
Você
aprende a fazer cálculos com rapidez e perfeição”,
conta.
Mais
disciplina no trabalho
O analista
do Banco Central do Brasil Edson Yoshida teve sua primeira aula
de soroban aos 37 anos. Estudante há dois anos, Yoshida
acredita que o soroban não é útil somente
para fazer contas. “O soroban torna a pessoa mais disciplinada.
Ela passa a ter um método para fazer as coisas. Isso pode
ajudar no dia-a-dia”, explica.
O analista
está no 1º grau e ainda tem dificuldades para executar
o Cálculo Mental (exercício no qual os sorobanistas
fazem contas sem utilizar o soroban). “Tenho dificuldade
em imaginar a movimentação das bolinhas (contas)
na cabeça, saber em que posição elas devem
estar”.
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